o focinho gelado de Osíris

diogo amorim
1 min readJun 8, 2024

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a pedra
alheia à pedra
a pedra alheia ao mar

o mar contra o mar contra
o mar
o mar alheio ao céu

céu, maresia e neblina
em eco de sulcos subterrâneos
vindos de dentro da origem
de si

a brisa no peito aberto
é o focinho gelado de Osíris
colado na nuca da mão
arredia

o que tem a pluma
a ver com o chumbo?

o ovo
com a galinha?

e o teu mundo singular
com o conjunto universal dos
mundos?

um quarto em Vila Isabel
e um nervo ocular nas
Antilhas

um quarto em Vila Isabel
e um felino
perdido em Dakar

um quarto em Vila Isabel
jockstrap e conforto
em Berlim

inferno e paraíso
comungam de precipícios
trafegam em anonimato
pelas mesmas vielas
nuas

notas agudas de flauta
são disseminadas no mel

jorram na
maquinação
por trás
de portas
entreabertas

onde antes escapava
merda
escapando rosáceo
o amor

visto que amor não é
uma areia
que se possa passar
na peneira

destronar-lhe
supõe coroar-lhe

no retardo às
moendas do dia
ao relinchar das navalhas
e sibilar de surdos minérios

no claro e bom
tom com que o
longe refaz o
perto no durante
que os comerá

uma rua é uma
sucessão de muitos
esquecimentos

mas existir é
de uma só vez
co-incidir
e tumultuar.

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